Thursday, June 19, 2014

Resposta um



Caro anti abstencionistas (link),

«Não defendo que percam o direito de se queixar só por não terem votado. »

Parabéns. E quanto mérito que é que isso te dá?

«Enquanto os outros conseguirem manter a democracia, vocês terão sempre esse direito.»

Ou seja, quem não vota não mantém a democracia e quem vota mantém a democracia. É isso? 

Discordo. Como se pode ver pela história as democracias foram conquistadas por outras coisas que não o voto, e mantidas por muito mais. Acusares alguém que não vota de não fazer nada para manter a democracia é completamente absurdo.

«Também não quero que vos obriguem a votar ou que vos castiguem se não o fizerem.»

Parabéns. E quanto mérito que é que isso te dá?

«Um voto tem de exprimir uma escolha própria e informada, e isso não se faz à força.»

Ai tem? É que parece-me que a maioria das pessoas, vota de forma não informada. Ups… Talvez se devesse obrigar as pessoas a fazer um teste de cruzes anexo ao voto para filtrarmos quem realmente sabe no que está a votar, ou assim.

«Não me convencem as vossas desculpas de que se abstiveram para protestar caladinhos em casa ou que vos é realmente indiferente quem são os legisladores que vos representam.»

Mas que desculpas? Alguém precisa de desculpas para se abster? Que raio… Digamos que eu me junto com o bando de rufias lá do bairro, e fazemos uma grande festa para o bairro decidir por voto quem é que vai ser o rufia maior e mandar. Depois se tu, caro bairrista, não vais votar no rufia que mais queres que te dê porrada, é bom que arranjes uma desculpa? Ok, está bem.

Eu diria que a autoridade é que tem o ónus de conseguir convencer as pessoas a legitimá-la, e não o contrário. Se eu não a quero legitimar, estou no meu direito, ponto final. Se ficar em casa a coça-los, estou no meu direito. Se achar que não sei em quem votar, estou no meu dever de não ir votar
¹. Se tiver uma de outras milhares de coisas que ajudam a sociedade a manter-se em pé para fazer e a for fazer, estou no meu direito. Enfim, as razões são infinitas.

E se depois de ficar em casa a coça-los o rufia que ganhou a vossa festa patética se armar em parvo e alguém, obedecendo de forma cega à sua autoridade, me vier tentar estragar a vida ou a vida da minha família, eu estou no meu direito de lhe dar um tiro nos cornos. Entendes? É assim que se defendem sistemas justos. É estando disposto a sacrifícios pelo que se defende. Não é com cruzes de merda no imbecil que consegue articular melhor um discurso.


«Se não encontraram diferenças é porque não se deram ao trabalho de as procurar.»

E quem vota, deu-se ao trabalho de encontrar alguma coisa? 

«Mas também não vou invocar deveres abstractos de civismo e democracia para censurar a vossa preguiça. O meu problema convosco é mais concreto.»

Acusação patética.

É um bocado como chamar a quem não contribui para a sociedade, tendo um trabalho produtivo e contribuindo acima da média, de ser um preguiçoso. Não trabalhas? És um preguiçoso. Ganhas o salário mínimo? És um preguiçoso.

Ou como acusar os funcionários públicos de serem uns chupistas. Ou qualquer outra generalização patética. Já devias saber melhor que isto.


«Gerir uma sociedade livre e justa é um berbicacho.»

E então ainda bem quem exista quem esteja disposto a sacrificar-se para o fazer pelo bem dos outros, mandando neles. Viva os mártires.

«É preciso saber o que cada um quer,»

Como se isso fosse possível…

«entre o que querem é preciso identificar o que é justo, daquilo que é justo e desejável há que determinar o que é possível e, finalmente, perceber como o obter.»

Mmm, estou a ver. Há uns seres todos poderosos, do tipo pai natal, que andam a recolher listas de desejos e a decidir o que é possível dar a quem. Isto porque os preguiçosos não saberiam, sem os tais senhores gordos que dão prendas, fazer nada por si mesmos para obterem o que querem.

«E é um trabalho constante, porque há sempre muito que temos de melhorar e, sobretudo, muito que temos de impedir que piore. Para conseguirmos isto distribuímos a decisão por todos os envolvidos na esperança de que os erros e enviesamentos individuais se diluam no grande número de participantes e, assim, se encontre o melhor caminho.»

… ver mensagem em cima. Não sejas preguiçoso, lê outra vez a mensagem de cima. Mas quando chegares aqui outra vez, não entres em ciclo, ok? Passa para a de baixo.

«No entanto, a democracia só funciona se cada um tentar perceber os problemas, estudar as propostas, pensar nas consequências, escolher as opções que prefere e der o seu parecer. Dá trabalho, demora tempo e é uma chatice, mas tem de ser assim porque não há alternativas aceitáveis.»

(Como te atreveste a chegar aqui sem ter voltado acima primeiro!!! Seu madraço!)

"Não há alternativas aceitáveis" é uma mensagem típica de quem defende um qualquer regime autoritário.


«Esperamos por um ditador?»

Não precisamos de esperar por um ditador. Já temos um, e tu defendes esse ditador. Tu és parte integrante dele. Apenas pensas que esse ditador é um “bom” ditador. É claro que de vez em quando ele não é assim tão bom e ficas melindrado com o que ele te manda fazer, mas enfim. Quem brinca com fogo queima-se.

«Atiramos a moeda ao ar?»

E que tal ninguém mandar em ninguém? Mas mesmo dentro do sistema que gostas: e que tal votar quem quiser ir votar?

«Damos tudo aos interesseiros e fanáticos? A democracia é um sistema muito mau mas os outros são todos piores.» 

A democracia é um ideal. O sistema que tens tenta ser democrático, mas há muitas maneiras diferentes de como tentar.

Nem todos os sistemas democráticos precisam de ter representantes eleitos por sufrágio universal. Por muito utópico que seja (será?), a anarquia é o sistema mais democrático de todos.

Ou mesmo um sistema parecido com o actual mas com uma assembleia com membros escolhidos de forma aleatória entre os cidadãos poderia ser, dependendo da maneira como fosse implementado, mais representativo da vontade do povo. Mais democrático portanto.

«Por isso, o que me chateia na vossa abstenção é a falta de colaboração num trabalho importante. Não é uma questão de direitos ou deveres cívicos em abstracto. O problema é concreto. Temos uma tarefa difícil, da qual depende o nosso futuro, e vocês ficam encostados sem fazer nada.»

Sem fazer nada? Deves pensar que ir trabalhar todos os dias, cuidar de uma família sem ter tempo, pagar uma porrada de impostos para que se consiga ter todas as coisas que temos como os senhores querem, é fazer nada para manter o sistema. Deves pensar que evitar a economia paralela sobre a impressionante pressão da sociedade para a usar (eu é que sou totó de andar a pedir recibos e merdas assim) é fácil. Deves pensar que tentar fazer as coisas de forma correcta constantemente, quanto à volta ninguém o faz, é não fazer nada.

Mas depois quem só pensa no seu umbigo no dia a dia, vai votar, já faz tudo e mais alguma coisa. Que conveniente.

Berdamerda para a tua acusação patética!


«Isto tem consequências graves para a democracia.»

A abstenção de forma genérica? Suspeito que não.


«Quando a maioria não quer saber das propostas dos partidos, está-se nas tintas para o desempenho dos candidatos e nem se importa se cumprem os programas ou não, o melhor que os partidos podem fazer para conquistar votos é dar espectáculo. Insultarem-se para aparecerem mais tempo na televisão ou porem o Marinho Pinto como cabeça de lista, por exemplo. Vocês dizem que se abstêm porque a política é uma palhaçada mas a política é uma palhaçada porque vocês não votam.» 

Está a pensar na maioria errada. Não é a maioria que se abstém que causa este problema, é a maioria dentro dos que votam que o fazem de “forma errada”.

«A culpa é vossa porque não é preciso muita gente votar em palhaços para os palhaços ganharem. Basta que a maioria não vote.»

Não, não basta. É preciso que exista uma maioria, dentro dos que gosta deste jogo e vai votar, votar nos palhaços. Os outros não participam na eleição dos palhaços, não têm nada a ver com o resultado. Não é evidente?


«Também é por vossa culpa que os extremistas estão a ganhar terreno, e pela mesma razão. É fácil pôr os fanáticos a votar. Basta abanar o pano da cor certa e, se mais ninguém vota, eles ficam na maioria.»

Não, não é por nossa culpa. É por vossa.

Mais uma vez: É a autoridade é que tem o ónus de mobilização. Se há várias autoridades a competir entre si para mandarem na aldeia, e queres pensar que há uma boa e outra má, e ainda a autoridade boa não consegue convencer aqueles que seriam os seus súbditos a votar nela, a responsabilidade é só e apenas dessa autoridade. Não é de mais ninguém.

Isto para não entrar na discussão de que é uma infantilidade pensar que há os bons e os maus, que é a única situação que justificaria o teu lamento. Admitindo o contrário, que se tratam apenas de opções políticas diferentes, e que não há maus nem bons, de repente passa a ser (mais) irrelevante haver uma abstenção que alegadamente tem a culpa de mudar o resultado das eleições. Tanta parvoíce.

E não mais uma vez. Quem se abstém tem ZERO de culpa na subida das posições extremistas. Vai ver
comparecimento às urnas nas eleições federais alemães que colocaram o partido Nazi no poder. Lá se vai o teu argumento da treta…

Diria que é mais provável as posições extremistas aparecem em alturas de crise, porque passa a ser mais desejável e aliciante acreditar em soluções mágicas para resolver problemas, ou em bodes expiatórios. Não é por causa da abstenção, tem dó.


«Mas se vocês colaborassem e se dessem ao trabalho de avaliar as propostas dos partidos, se os responsabilizassem pelas promessas que fazem e votassem de acordo com o que acham ser a melhor solução, deixava de haver palhaços, interesseiros e imbecis na política.»

Não. Quem tem a responsabilidade de fazer tal coisa é quem vota, não é quem se abstém. Quem vota, tem a responsabilidade de o fazer correctamente. Quem sabe que não o consegue fazer correctamente, tem a obrigação de não votar.

«Não presumo que vocês fossem todos votar no mesmo que eu.»

Presumes bem, mas não deixas de escrever este lamento patético a pensar que tudo seria diferente se a abstenção fosse baixa… Como sabes pelos países que têm voto obrigatório votar não é a mesma coisa que lutar por, e conseguir um, sistema justo. Até pode ser o contrário, como reconheces pelo teu lamento de quem "vota mal".

«Não temos todos as mesmas prioridades nem as mesmas opiniões acerca do que é viável e de quem merece confiança. Mas pelo menos acabava a palhaçada.»

Daqui a nada estás a defender o homo economicus. Estás a sonhar. Eu também sonho. Sonho que um dia a cultura vai ser de tal forma evoluída que ninguém vai quer mandar em ninguém, e ninguém vai aceitar ser mandado por outro de forma coerciva. Entretanto vai-se vivendo na realidade.


«Se a maioria votasse com consciência em vez de ficar em casa obrigávamos os partidos a prometer soluções viáveis e a cumprir o que prometessem.»

Falso. Ver eleições federais alemãs que colocaram o partido nazi no poder. Aposto que votaram todos com consciência.


«Parece-me que este resultado valeria bem o trabalho de ler uma dúzia de panfletos, pensar um pouco e pôr uma cruz no papel. Mas não é trabalho que se possa deixar a uns poucos enquanto a maioria coça o umbigo.»

Se se trata apenas disso, tens os partidos que tens, os programas que tens, e ganha quem ganha. Sem abstenção o resultado seria certamente muito parecido, e os programas seriam exactamente os mesmos. Nada leva a querer o contrário. Diria que a totalidade dos votos representa uma amostra com um erro baixo...

«Nós não precisamos dos votos de quem tem certezas. Precisamos de quem tem dúvidas e que, por ter dúvidas, questione, informe-se e pense no que faz. Não precisamos dos votos dos militantes. Precisamos dos indecisos, porque o que é preciso é tomar decisões em vez continuar a repetir o que evidentemente não funciona. E nisso estamos bem. Há muita gente com dúvidas e capaz de decisões novas que, em conjunto, podia mudar isto tudo.»

Precisas de muita coisa, e se não consegues recrutar mais amigos, a culpa é tua! Entendo que estejas aborrecido com isso mas mais vale subjugares-te à realidade: Não vais conseguir acabar com a estupidez humana (2), estou eu aqui a servir de prova e tudo! E o sistema que defendes faz com que sejas um vassalo dela.

«Vocês. Basta apenas que se deixem de tretas e ajudem de vez em quando.»

Basta... basta? Tanta ingenuidade. Basta ler uns panfletos e colocar umas cruzinhas de quatro em quatro anos num papel. Depois podemos ir todos brincar aos hippies, plantar umas batatas, trocar umas cenas, receber o rendimento básico incondicional, fumar uns charros, darmos as mãos e sermos felizes.

Não, não basta. Com sistemas autoritários conseguem-se construir pirâmides, mas é preciso escravos que puxem as pedras.


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Agora repara no seguinte. Se de facto quem não vota está totalmente desinteressado da política, podes pegar no universo dos que "se interessam"e vão votar e reparar que: O resultado das eleições é o que é, e nunca seria diferente apenas por haver mais pessoas a votar.

Não gostas do resultado das eleições? É a vida. Acusar os outros de terem culpa de ganhar o partido errado (o que tu não gostas) é patético e pouco democrático. Se achas que a política seguida é errada, azar o teu. Quer queiras quer não estás no sistema que defendes, a culpa é tua. Submete-te à vontade da maioria. Se achas que a política seguida é ilegal e queres andar com acusações de corrupção generalizada e outras merdas, então não te estás a queixar de um sistema político errado estás-te a queixar de um sistema de justiça deficiente. Que tal passares a escrever posts a queixar-te dos tribunais, dos juízes, da PGR, e cenas assim?

Se a tua queixa é outra, a de não haver pessoas a votar informadas, então essa queixa aplica-se a todos mas principalmente a quem vota, não a quem se abstém. Quem vai votar de forma aleatória só para pensar que está a cumprir o seu "dever cívico" é que está a fazer merda. Se deixasse essa tarefa para quem realmente teve a disponíbilidade, e tem a capacidade, de se informar, então o resultado seria... informado ou assim. Já pensaste que se calhar, mas só se calhar, a maioria das pessoas nem tem a capacidade de entender os programas políticos?

Mas felizmente votar "mal" ainda é um direito,
subjuguemo-nos às maldades consequentes. É a viding...

Para mim apontaste os canhões para o subgrupo errado e de forma completamente injusta. Esta é, na minha opinião, a tua treta.


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PS: Para o trabalho que esta merda me deu a escrever... se calhar mais valia ter ido votar. Do ponto de vista da preguiça fazia mais sentido, e sempre escusava ir trabalhar amanhã em modo zombie, e de me sentir o alvo de acusações patéticas.

PS2: Lamento o estilo agressivo da resposta mas não gosto que me acusem de ser preguiçoso injustamente.


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  1. http://www.pages.drexel.edu/~nth34/Nathan_Hanna/Papers_files/voting.pdf
  2. https://www.youtube.com/watch?v=p6BoV0AIPl4

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